Netflix: As crianças perdidas na Amazônia e a Operação Esperança - Keep N´ Pop

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Netflix: As crianças perdidas na Amazônia e a Operação Esperança

 

Reprodução - Netflix
As crianças perdidas

O que fazer quando o avião em que fazia uma viagem em família cai em meio a uma floresta? E acaba ceifando a vida da pessoa mais importante na sua vida? São esses pensamentos que permearam os meus pensamentos durante todo o tempo em que assisti o documentário “As crianças perdidas”, que estreou recentemente, na Netflix.

No dia 1 de maio de 2023, às 09 horas da manhã, um programa jornalístico local, informava a queda de uma aeronave modelo Cessna 206, na Colômbia. Nesta aeronave, encontravam-se sete passageiros. Dentre eles, estavam: O piloto do avião, Hernando Murcia Morales ; Herman Mendoza Hernández, o líder de uma aldeia indígena; uma mulher de 33 anos, chamada Magdalena Mucutuy Valencia, que era a mãe das quatro crianças. A mais velha, de 13 anos e a grande heroína da história, chama-se Lesly Mucutuy; a Soleiny Mucutuy, de 9 anos; o único menino do grupo, chama-se Tien Mucutuy e tem 4 anos; e a mais nova, com apenas 11 meses de idade na época do acidente, temos a Cristin Mucutuy.

O documentário inicia-se com a cena de uma mãe e seus quatro filhos indígenas a espera de um avião, que logo pousa sobre a pista em meio a uma área de muita vegetação. Graças ao excelente trabalho de direção de Orlando Von Einsiedel e à equipe criativa, nos deparamos com um arquivo imersivo, onde vivenciamos momentos em que nos imaginamos perdidos como aquelas crianças em meio a mata, cercados de animais silvestres e peçonhentos.

Aflitos e impotentes! Aflitos por todo o cenário e situações que são narradas por todos os envolvidos nesta jornada, desde os primeiros militares mostrando preocupação com a área sinistra que estariam adentrando dali em diante, até os grupos de voluntários indígenas que foram surgindo e narrando suas historias pessoais vividas nessa região de mata e impotentes por algo sequer conhecido, de acontecimentos paranormais que tornaram aquela história ainda mais intrigante ao telespectador. Será que você sobreviveria por 40 dias perdido em meio a Floresta Amazônica, em uma área considerada remota e de difícil acesso? Se era difícil para um grupo de homens adultos, treinados e acostumados com mata fechada, o que dizer a respeito de quatro crianças indefesas?


Comandante das Forças Especiais Pedro Arnulfo Sánchez
Reprodução - Netflix


Após o anuncio televisivo do acidente, o caso logo ganhou proporção internacional e muitos canais de televisão e portais de noticias online passaram a acompanhar o caso. Até o momento não faziam ideia sobre a existência de algum sobrevivente e haviam poucas esperanças, devido ao porte e a região em que ocorreu a queda da aeronave. Somente no dia 4 de maio de 2023, o General Pedro Arnulfo Sánchez mobilizou uma equipe de militares para o resgate das vítimas, e então o Capitão das forças especiais, apelidado de “LEGIONARIO” liderou as buscas, que começaram de imediato. E à primeira vista do local, onde iriam pousar, a situação era preocupante, pois era uma região nunca antes explorada por militares e ainda havia o risco de encontrar pessoas ligadas com as FARCs, guerrilheiros e terroristas.


Capitão das Forças Especiais "LEGIONARIO"
Reprodução - Netflix


O primeiro plano do grupo em missão, seria localizar a aeronave, pois os últimos sinais do radar, indicavam que ela teria caído por ali, mas ia ser uma missão quase impossível. Tiveram de abrir a mata com facões e muita força braçal, para poder caminhar e eles continuaram a fazer isso por mais alguns dias, sem sucesso na identificação de qualquer aeronave, ou seja lá qual for a pista que indicaria a existência de algum ser humano, antes visto, por ali.


Manuel Ranoque, pai e padrasto das crianças
Reprodução - Netflix


O caso ganhava cada vez mais forças nos meios de comunicação e até mesmo o marido de  Magdalena Mucutuy Valencia, o Manuel Ranoque, e pai das duas crianças mais novas do casal, estava participando de entrevistas e mostrando-se prestativo nas buscas pela família. Os familiares e moradores da aldeia onde a família e o líder da tribo indígena viviam, estavam todos preocupados, a professora Madadme Mendoza Ortiz, aparece muito aflita ao relembrar da época em que foi noticiado o desaparecimento dos seus alunos e reforça o quanto eram queridos, que tinham seus lugares vazios, os desenhos que faziam durante as aulas e até mesmo o comportamento de cada um deles. Ela reforça que as crianças são indígenas (Puerto Sábalo, Guarda Resguardo Indígena de Los Niños), possuem uma linhagem ancestral nômade; vinham de gerações de povos indígenas que viviam de territórios em territórios e assim aprenderam a sobreviver, através de caças e de colheitas em terras por onde passaram; e que apesar de todos os aprendizados que tiveram na aldeia e com a mãe, ela não tinha muitas esperanças de que crianças conseguiriam sobreviver em uma mata tão densa. Mas ela também sentia que havia algo de estranho pairando sobre aquelas crianças, e a mais velha era a que mais compreendia, porém guardava tudo em segredo e não compartilhou com ela em nenhuma das tentativas e se fechava cada vez mais para a professora. Confesso que a esta altura, já imaginava o que poderia ser e os depoimentos cedidos também pela avó materna, Fátima Mucutuy e a tia das crianças, a Yeritza Mucutuy, só confirmaram: A mãe e os quatro filhos sofriam violências, por parte do pai e o que era visto apenas como um desaparecimento, começou a abrir nossos olhos a uma possível fuga e pelos indígenas que nem sabiam ainda desta informação, eles diziam que a mãe natureza estava protegendo as crianças de algo e que eles eram os filhos da Colômbia, e com certeza foi graças a este pensamento e força sobrenatural que a verdade veio a tona, e não só a Colômbia, mas o mundo inteiro olharam por essas crianças, até a justiça ser feita.


Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix

A imprensa manteve-se lado a lado dos militares nas buscas. Os jornalistas relatavam a tensão de estar em meio a uma selva e ter de enfrentar os mais diversos perigos existentes ali. Eles sussurravam para falar, faziam movimentos meticulosamente calculados e sob o comando dos soldados das forças especiais, pois qualquer erro cometido, poderia custar suas vidas.

Havia uma grande tensão entre membros das tribos e os militares, por conta do histórico de confrontos territoriais entre esses dois lados, mas apesar deste problema presente, os indígenas de algumas comunidades resolveram fazer uma busca voluntaria pelas crianças, mas por conta própria e bem longe dos militares.


Conflitos entre indígenas e militares
Reprodução - Netflix



O desaparecimento da aeronave, com um líder indígena e de quatro crianças, foram o que mais comoveu os voluntários daquelas aldeias. Henry Guerrero, dizia que fazia parte do mesmo clã que o líder indígena que estava desaparecido, o grupo étnico Uitotos, e ele compreendia a selva, pois desde pequeno aprendeu com seus ancestrais a caçar, se orientar pelo Sol na mata. A busca pelo seu companheiro de tribo, teria sido o principal motivo para ajudar nas buscas, além de problemas pessoais, que envolviam seu divórcio. Mesmo com uma equipe significativa de indígenas que conheciam aquelas matas, eles não conseguiam encontrar nada, até que um menino chamado Alejandro, de apenas 14 anos e nunca havia saído daquela região de mata e de sua aldeia, informou ter visto uma “Casa azul” no meio da selva, anteriormente.


Alejando - o menino que encontrou a aeronave na mata
Reprodução - Netflix


No dia 15 de Maio de 2023, com a ajuda de Alejandro, um menino que nunca conheceu a civilização, os voluntários indígenas conseguiram localizar o avião em que estaria as vitimas do acidente aéreo. Naquele momento, o pai das crianças, Manuel Ranoque estava com o grupo, ele participou das buscas com os indígenas desde o dia 08 de Maio e ficou sabendo através deles, de que sua família estava morta e todos os presentes estranharam o comportamento do homem, que não esboçou e nem falou nada.


Avião Cessna 206 no local do acidente
Reprodução - Netflix


No dia 16 de maio de 2023, a equipe de forças especiais do Capitão LEGIONÁRIO, estiveram no local da queda para identificar os corpos de dentro daquele avião. O Capitão identificou dentro da aeronave, três corpos, sendo eles, o da mãe, o do piloto e o do líder indígena; e por conta da posição em que a aeronave tinha se chocado com o chão, era muito difícil identificar e retirar os corpos dali, ele estava praticamente em pé, com o bico do avião soterrado na terra. Naquele momento ninguém entendia o que tivera acontecido com as crianças e os indígenas analisavam fotografias do local do acidente e imaginavam de que o impacto do avião teria arremessado malas, objetos da aeronave na hora do impacto, e quem sabe as crianças teriam sido arremessadas por aquela área ou talvez, por um milagre, estivessem vivas. Ao continuar as buscas, na esperança de encontrar um sinal de vida ou os corpos das crianças, os soldados encontraram em uma região próxima de onde estava o avião, uma mamadeira que foi recentemente utilizada, um maracujá silvestre com marcas de mordidas humanas, um abrigo improvisado, contendo objetos pessoais e essas informações alimentaram ambos grupos a continuar as buscas e deram mais forças ao que virá a ser a “Operação Esperança”.


Cão Wilson -  Membro das Forças Especiais e participou das buscas pelas crianças
Reprodução - Netflix


As táticas especiais foram alteradas, o que até aquele momento exigia do grupo militar e voluntários, o silencio e cuidado aonde pisam, passaram a ser gritos de avisos e chamados pelos nomes das crianças. Buscas durante o dia e durante a noite; utilizaram a aeronave fantasma da força aérea, juntamente com sinalizadores; cão Wilson, um pastor belga-malinois de 1 ano e meio de idade, treinado pelas forças especiais para participar de missões de buscas e de resgate, foi levado para a floresta amazônica para ajudar nas buscas, e um áudio da avó das crianças, a dona Fátima Mucutuy, era reproduzido em um alto falante em um helicóptero, que sobrevoava a floresta,  e mega fone utilizado pelos soldados no meio da mata, na esperança que as crianças escutassem e obedecessem as ordens de parada, ditas em espanhol e na língua nativa da tribo indígenas (Uitotos) que elas faziam parte; 100 kits de sobrevivência, refletores potentes espalhados pela mata em pontos estratégicos que serviam para guiar as crianças até locais de resgates e mais de 10 mil panfletos em Uitotos, foram espalhados pela mata na esperança de que eles encontrassem e isso pudesse estender a vida deles até o resgate e neste momento a imprensa toda estava voltada para o caso e os telespectadores torciam e rezavam pelas vidas das crianças, e todos queriam um desfecho para aquela história de comoção internacional.


As vítimas fatais do acidente aéreo
Reprodução - Netflix


Os indígenas acreditavam que as forças especiais foram para a floresta amazônica preparados para uma guerra e não para uma missão de resgate e eles contam de experiências pessoais que vivenciaram no passado ao ter de lutar para defender suas terras, de massacres, a destruição de suas culturas pelo “homem ocidental”, perderam muitos familiares e que no meio deles, naquelas buscas, os soldados e suas armas não eram bem vindos. Em contrapartida, os militares das forças especiais, o Tenente das forças especiais “Popeye”, sentiam o mesmo receio em ter que estar em um mesmo ambiente que os indígenas e a desculpa era de que entre eles tinham “bandidos e assassinos” disfarçados dentre eles e a qualquer momento poderiam atacá-los.  



Indígenas Uitotos
Reprodução - Netflix


“Me lembro que um dia estava chovendo muito, de repente ouvi um soldado:
- Parado! Ou eu disparo!
Claro que ele já estava em posição de disparo, né? Porque ele achava que a gente era da guerrilha e eu quase comecei a chorar. Aí eu me arrependi e pensei: O que é que eu estou fazendo aqui?! “
Henry Guerrero


Henry Guerrero - Indígena que se voluntariou nas buscas pelas crianças
Reprodução - Netflix

Neste momento as tensões só aumentaram, alguns pensavam em desistir das buscas e Henry Guerrero estava duvidando da sua própria capacidade de líder da equipe de buscas indígenas e desabafa sobre a triste história de vida, desde trabalhador ilegal em fabricação de drogas, os abusos sofridos por autoritários, o a uso de drogas e tudo o que o levou até chegar até ali.



Equipe Médica e das Forças Especiais retirando os cadáveres da Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix

Depois de tantos dias de buscas, somente em 18 de maio de 2023 que os soldados e o IML retiraram os corpos dos três adultos de dentro da aeronave e na mesma data o cão Wilson se perdeu da equipe de buscas. A partir deste momento, após as cenas comoventes da retirada dos corpos e as imagens dos falecidos, todos os envolvidos sentiam-se a espera de um milagre. Eles oravam, clamavam a Deus para encontrar as crianças, e refletiam sobre o que elas sentiram após a queda e ao ver a sua mãe morta e pensavam em suas filhas que estavam em casa naquele momento e o quanto elas eram importantes. Ali eles enxergavam o quão impotentes eles eram, que apesar de todos os esforços, equipamentos de tecnologia de ponta, soldados treinados, equipes preparadas, nada daquilo surtiu efeito algum e aquelas quatro crianças continuavam perdidas.


“Eu sentia que havia uma força superior que não permitia que a ciência e a arte militar encontrassem aquelas quatro crianças” 


Comandante das Forças Especiais Pedro Arnulfo Sánchez 
Reprodução - Netflix


Dia 20 de Maio de 2023 o Puesto de Comando Unificado (PMU) em San Jose del Guaviare, em uma coletiva de imprensa, o Sanchez dizia que até aquele momento nada havia sido encontrado, nem mesmo o choro de um bebe de 11 meses teria sido ouvido, o que não era algo de se esperar, o que era frustrante para a missão. Neste momento, era a hora de mudar de estratégia.


Representantes indígenas em reunião no PMU
Reprodução - Netflix


Reunidos, vários representantes de tribos indígenas locais, que serão integradas em 5 equipes para ajudar nas buscas e contribuir de maneira articulada, com um único objetivo: Encontrar as crianças. 



Nicolás Ordóñez - Indígena que se voluntariou nas buscas pelas crianças
Reprodução - Netflix
 

Nícolás Ordóñez, integrou este novo grupo de voluntários indígenas que trabalharia nas buscas pelas crianças. Ele conta que acompanhou nos noticiários todas as informações a respeito do trabalho dos especialistas, que seriam das forças especiais, e apesar de conhecer bem aquela área de mata, ele preferiu não se envolver, e nós já sabemos que o motivo é justamente devido aos conflitos anteriores citados. No dia 22 de maio de 2023, um grupo de em média 40 indígenas, de outras aldeias uniram-se as equipes de buscas, que ao todo totalizaram, 85 indígenas


“A gente não deu tanta importância, isso era coisa do governo. Então pra gente, se eles sempre menosprezaram o nosso conhecimento[...] a gente não queria trabalhar com os militares, até sair no jornal de que tinha crianças envolvidas e talvez o pai daquelas crianças estivesse passando pelo o mesmo sofrimento que eu passei, e ai eu falei pra minha mulher: Eu quero ir!.”

Eliécer Muñoz


Eliécer Muñoz -  Indígena que se voluntariou nas buscas pelas crianças
Reprodução - Netflix


Eliécer Muñoz, um dos voluntários de resgate presentes nas buscas pelas crianças perdidas da floresta amazônica, que permaneceu até o final das buscas.


“É a primeira vez que as forças militares e os grupos indígenas se unem em uma missão conjunta oficial. Muitos desses voluntários indígenas desconfiam do exercito depois de mais de 50 anos de conflitos internos armados”.


Equipe de buscas de voluntários indígenas e militares das forças especiais, unidos em prol das crianças perdidas
Reprodução - Netflix


O momento em que é anunciado a missão conjunta entre militares e indígenas, em prol de salvar vidas, é emocionante. Apesar de todos os conflitos existentes, todos estavam ali presentes por uma força maior, e ninguém esperava ganhar recompensas ou reconhecimento, eram apenas homens, humanos, demonstrando um pouco de humanidade. Já se passaram 22 dias desde o acidente aéreo e depois de três semanas sem comer, o corpo é incapaz de sobreviver e o tempo é crucial para encontrar as crianças. Com olhares aflitos, passos rápidos e ligeiros, soldados e indígenas, instalavam-se na mata e discutiam os melhores planos para executar uma nova busca. Apesar de todo o conhecimento ancestral e experiência de campo adquiridos por anos em meio a mata, os indígenas temiam algo superior, a qual falam o tempo inteiro no documentário: Os seres sobrenaturais presentes na mata.


Edwin Manchola -  Indígena que se voluntariou nas buscas pelas crianças
Reprodução - Netflix



Edwin Manchola, membro da equipe voluntaria de indígenas, dizia sentir muito medo da energia que a terra emanava. Os indígenas contaram que sentiam, não só a energia da terra, mas os sinais eram claros também: Ao adentrar em determinadas áreas, eram trovoadas, chuvas repentinas, e todos os territórios possuem seus guardiões, e os indígenas acreditam que os Duendes existem, que animais se transformam em seres humanos e que eles poderiam capturar elas, e isso dá muito medo, por isso deveriam ter cuidado e muito respeito pela terra sagrada.

“ A gente sente ele andar e tocar, mas não pode ver, porque ele é um espírito. O meu trabalho era lutar contra o duende porque ele estava com as crianças. É claro que eu fiquei com medo,

Don Rubio


Don Rubio - Líder espiritual indígena que participou das buscas
Reprodução - Netflix 

Don Rubio era o principal responsável pela busca das crianças, ele é Xamã, ou líder espiritual indígena, que carrega muita sabedoria do seu povo. Graças a ele, o grupo indígena começou a fazer um ritual na selva, conhecido como “Manbear”. O mambe é feito da folha de coca, e essa folha é misturada com o tabaco, onde eles fumam a mistura ou mascam a folhas da planta; com o objetivo de “silenciar a mente” e se conectar com a natureza e naquele momento era o que todos mais necessitavam, para encontrar o mais breve possível, as crianças perdidas.


Indígenas preparando a mistura do Mambe
Reprodução - Netflix


A cerimônia completa não é mostrada, mas é descrita como algo emocionante, e o silencio tomava conta do ambiente. Ali eles estavam apenas de passagem e deviam respeitar aquele espaço, e evitavam até mesmo queimar, ou quebrar os galhos das arvores, em respeito a um local que não o pertenciam, mesmo sendo indígenas criados naquelas terras, nada os pertencia. É admirável a consciência e o respeito que os povos indígenas possuem pela natureza, todo o cuidado que eles tem com todos os seres vivos ali presentes e o entendimento de que nada os pertence, mesmo sendo parte de tudo aquilo. Temos muito a aprender com os povos originários, principalmente a respeitar tudo aquilo que não possuímos entendimento. 


“Os indígenas estão acostumados com esses fenômenos sobrenaturais que acontecem na selva, com seus rituais e essas coisas. Mas os comandos que estavam lá, eram todos católicos. Nós acreditamos que existe um só Deus e a gente só olhava um pra cara do outro. Era algo totalmente anormal”
Cap. Legionario

Crianças indígenas são raptadas e forçadas a trabalhar para criminosos
Reprodução - Netflix

Um dos assuntos muito abordado pelos indígenas no documentário é sobre o quanto o povo sofre repressões e ataques armamentistas por parte dos militares, e além deles e do governo, eles ainda tem de enfrentar e sofrer nas mãos das Farcs, que aproveitam da vulnerabilidade desses povos para cometer atos criminosos em aldeias e muitos jovens são raptados, tirados de suas famílias para servirem como escravos no mundo do crime. Alguns são retirados de seu lar, muito pequenos, como foi o caso de Nícolas Ordóñez, que aos 9 anos de idade, foi recrutado pelo crime e tinha de participar de guerras do tráfico, e Eliécer Muñoz, teve o pai, desaparecido e seu irmão raptado pelos criminosos e nunca mais o viu e continua em uma busca incessante, há mais de 23 anos, a procura de informações e de descobrir o paradeiro de seu irmão; e foi isto que despertou sua empatia pelas crianças perdidas, ao compreender o que seus familiares da aldeia sentiriam, por não ter respostas sobre o que de fato lhes aconteceu. Os traumas e sequelas, nunca foram esquecidos por nenhum sobrevivente desses tempos sombrios, e Nícolas, repudia veementemente o uso de armas, guerras e drogas, coisas as quais o leva a questionar a própria existência, o significado de “Família” e desde quando retornou para casa, ele enxerga o verdadeiro valor de viver, das pessoas e da sua comunidade; e assim ele entendeu que a sua transformação começou. Os depoimentos de Nicolas Ordóñez, são partes das minhas favoritas no documentário, é uma pessoa jovem, com muito conhecimento e experiência de vida, que transcendeu através da dor, e buscou sempre pelo melhor, até encontrar sua luz. Um jovem de alma velha ancestral; assistiria com prazer um documentário se fosse somente sobre ele e os demais indígenas contando a respeito de suas vivencias pessoais e reflexões. É emocionante e inspirador!


“ A gente estava pensando que nem crianças”


Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix

No dia 24 de maio de 2023, enquanto os militares faziam as buscas enfileirados, assim como foram treinados em missões especiais, os indígenas buscavam uma abordagem diferente dos “homens adultos”. Eles acreditavam que usar de uma técnica, pensando como um adulto, levaria a missão ao fracasso, então começaram a se espalhar pela mata, pensando que crianças não iriam seguir uma fila, pois elas não ficam paradas e nem seguem a mesma linha de raciocínio de um adulto. A ideia deles era se deixar levar pela “criança interior” e seguir as suas intuições, e esta ideia foi genial. Crianças não pensam como adultos e o erro de qualquer adulto é pensar como um na hora de subjugar a atitude de uma criança, ainda mais quando se está em fase de desenvolvimento. E somente aí eles começaram a encontrar os rastros das crianças


As forças especiais comemoraram o 1º aniversário de Cristin
Reprodução - Netflix


No dia 26 de maio de 2023, a bebe Cristin, perdida com seus irmãos na floresta amazônica, completava o seu primeiro aniversário. A equipe de forças especiais, reuniram-se para cantar os parabéns para a pequena Cristin e as equipes que se encontravam na floresta amazônica, oravam e pediam a Deus, que os ajudassem a encontra-la em seu aniversário, junto com seus irmãos. A cena do bolo e os parabéns, foi de cortar o coração. O tempo estava passando e não havia nenhuma notícia sobre o estado de Cristin e nem de nenhum dos outros irmãos, e isso era preocupante.


Don Rubio - Deitado e muito doente na Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix


Dia 29 de maio de 2023, indígenas e militares passaram a sofrer outro tipo de ataque em meio a floresta amazônica. Todos os participantes das buscas começaram a adoecer de maneira instantânea. Eles diziam sentir muita tosse, dores no peito, calafrios, febre, e por conta disto, alguns voluntários começaram a desistir das buscas, outros continuaram, apesar de muito debilitados e tiveram ajuda dos médicos socorristas das forças especiais, que continham kits de sobrevivência e medicaram a todos que precisaram de atendimento médico no local.

O mestre espiritual, Don Rubio, que sempre falava dos ataques espirituais das forças presentes na natureza, foi um dos mais afetados pelos sintomas da doença, chegando a tossir sangue, mas mesmo assim ele continuou no local, lutando contra essas forças paranormais. Ele dizia que o Duende da mata queria um pagamento pelas crianças e neste momento, os indígenas viram a necessidade de se unir ainda mais aos militares e aceitar qualquer ajuda médica para acelerar a recuperação do grupo, principalmente de Don Rubio.


União de forças ancestrais e militares
Reprodução - Netflix


Os soldados das forças especiais auxiliaram os indígenas durante todo o tratamento médico enquanto estiveram na floresta amazônica, e enquanto comunicavam-se, armas foram deixadas de lado e aos poucos os grupos foram fortalecendo uma relação de cumplicidade e confiança. Talvez fosse esta a lição que a mãe natureza queria dar aos homens, brancos, indígenas e qualquer um que pudesse testemunhar; e compreender que a união de um povo, é muito mais poderosa do que qualquer arma letal ou as guerras.


“Se a gente que tem tudo o que precisa, está assim, como será que estão essas crianças? Será que estão doentes? Será que os quatro estão juntos? Ou será que algum deles morreu?”


Soldados das Forças Especiais
Reproduçaõ - Netflix


Unidos, no dia 31 de maio de 2023, os soldados das forças especiais resolveram aceitar toda ajuda e conhecimento indígena e deixaram eles guiarem os direcionamentos das buscas. Neste momento as áreas de buscas estavam diminuindo, mas também diminuíam as probabilidades de encontrar as crianças, e a medida que eles tentavam se aproximar, parecia que elas estavam cada vez mais se afastando da equipe de resgate. Isso era preocupante e ao mesmo tempo levantava muitos questionamentos e suspeitas. Será que elas estariam de fugindo de algo? ou alguém? Os indígenas pensaram que talvez eles tivessem com medo das forças armadas, assim como eles sentiram de inicio nas buscas, mas ainda assim não era uma certeza e os parentes, como a avó, Fátima Mucutuy, sabia na verdade o que era.


“Eu sabia o que estava acontecendo. 

A Lesly não queria ser encontrada porque ela não queria ver o Manuel.”

Fátima Mucutuy


Fátima Mucutuy - Avó materna das crianças
Reprodução - Netflix


Enquanto os soldados e os indígenas estavam em paz nesta nova fase da missão de resgate, os familiares das quatro crianças estavam pensando no motivo pelo qual as crianças não foram encontradas e mostravam sinais de que se afastavam cada vez mais da equipe. A avó Fátima Mucutuy e a tia das crianças, Yeritza Mucutuy, diziam compreender Lesly e que sentia raiva do padrasto da menina. Segundo elas, Manuel Ranoque, agredia a esposa na frente das crianças, a Lesly foi a que mais sofreu com os traumas e abusos cometidos pelo padrasto e tinham certeza de que eles estariam fugindo de medo dele. Enquanto isso, as equipes estavam na companhia do verdadeiro monstro e pensavam que ele era um verdadeiro pai amoroso e preocupado com os seus filhos. Enfim, a hipocrisia e a mãe natureza continuava fazendo todo o trabalho em proteger as crianças e mandando todos os sinais a equipe.


“Aconteceram umas coisas que nem temos respostas”

Don Rubio


A bússola não parava de girar e outras atividades paranormais aconteceram durante as buscas na mata
Reprodução - Netflix


As equipes contaram que em algumas noites eles sentiam coisas inexplicáveis até para eles que estavam acostumados com a floresta. Eles sentiam sensações estranhas e como se tivesse alguém em volta deles, uma energia densa muito forte, mas tão forte que as bússolas do gps começaram a girar sem parar e isso causou medo até mesmo nos militares que presenciaram aquilo. Ninguém entendia o que era aquilo, mas Don Rubio sempre sentia a presença do duende e dizia que agora ele estava atrás do capitão das forças especiais, e apesar deles serem católicos, todos concordavam que existiam, ali, forças sobrenaturais.


“Quantas vezes nós matamos, construímos e destruímos as florestas? Não só o nosso povo, mas também muitas outras pessoas sem diferentes partes de todo o mundo. A selva estava com raiva.”

Nícolas Ordóñez


Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix

No  33º dia de buscas, o comandante das forças especiais acreditava que não iriam mais encontrar as crianças com vida e decidiu reduzir a equipe de buscas. A verdade é que a esta altura, ninguém mais acreditava que era possível um bebe de apenas um ano pudesse sobreviver em uma selva inóspita e com 33 ou 34 dias, já era esperado que as buscas se encerrassem, afinal, os voluntários estavam também em plena situação de vulnerabilidade e tinham suas famílias os esperando em casa.

Àquela altura, era notável que todos os voluntários que continuaram nas buscas estavam bem abatidos e dez esperançosos, alguns bem mais magros de quando iniciaram a missão. Não havia mais onde procurar, o sentimento de fracasso tomava conta de todos, as forças especiais estavam quase que finalizam as buscas, até que, em uma medida de extrema urgência, o líder espiritual indígena, Don Rubio, pediu que tivessem fé e que havia algo que ainda poderiam tentar: Usar a ayahuasca!


Cipó de Ayahuasca
Reprodução - Netflix

A ayahuasca é uma bebida preparada a partir dos galhos de uma arvore e é muito utilizada em algumas culturas, principalmente pelos povos indígenas, em diversas regiões em diversas cerimônias ou rituais sagrados. E naquele momento, os indígenas tinham certeza de que encontrariam as crianças após as revelações da ayahuasca. Enquanto a equipe de buscas se preparava para a experiência com a bebida de ayahuasca, os membros da tribo indígena estavam em uma espécie de ritual coletivo, rezando, enquanto a ayahuasca preparada por eles era entregue ao grupo de buscas. A primeira tentativa de revelação com o uso da bebida foi feita com o pai das crianças, ele também era parte de uma tribo e provavelmente já fez uso de ayahuasca, mas, não funcionou. O corpo de Manuel Ranoque, simplesmente rejeitou a selva e a ayahuasca, o que foi uma surpresa para todos os presentes e foi convidado a se retirar do ritual, para não atrapalhar.

Havia apenas mais uma dose de ayahuasca e Don Rubio, o líder espiritual foi o escolhido para assumir a experiência em busca das crianças perdidas, e caso aquilo não funcionasse, eles iriam desistir das buscas na manhã seguinte. 


“A gente vai encontrar as crianças hoje, às três horas da tarde!”

Don Rubio

Don Rubio 
Reprodução - Netflix 

No 40º dia, tudo estava preparado para o encerramento das buscas, encontrando as crianças ou não. Após o ritual com a ayahuasca, eles diziam que a selva estava agindo diferente, as energias estavam mais calmas e em paz, era como se realmente ela estivesse se despedindo deles e ali seria o fim daquela missão. O líder espiritual Don Rubio na noite anterior havia passado por uma experiência única com a ayahuasca, Ocorreu tudo bem e ele disse ter virado um tigre, e caminhando pela floresta, conseguiu enxergar as crianças e orientou que o grupo de voluntários fossem em sentido noroeste, que as crianças estavam nessa direção. 


Don Rubio teve uma visão de onde estaria as crianças com a ajuda da Ayahuasca
Reprodução - Netflix


O grupo de indígenas ficaram a manhã e o inicio da tarde procurando as crianças por toda a mata, e eles já estavam subindo o morro para aguardar o helicóptero das forças especiais no horário marcado, quando de repente, escutaram o choro de uma criança na selva. Todos ficaram imóveis, escutando de onde vinha os choros. Foi quando, Nícolas Ordóñez, olhou para o lado e enxergou as crianças bem a sua frente. Segundo ele, as crianças estavam bem debilitadas e assustadas, quando o viram, eles tentaram se esconder e ele abriu os braços e disse-lhes: Família! 

9 de junho de 2023

“Deus nunca falha quando a gente pede com sinceridade”


O resgate das crianças indígenas na Floresta Amazônica
Reprodução - Netflix

Com certeza, as cenas após o encontro foram de muita emoção, não só para eles, mas para muitos telespectadores. Me emocionei com o resgate, principalmente ao ver a situação em que as crianças estavam e com a certeza de que mais um dia ali, elas não conseguiriam sobreviver. Elas ficaram muito debilitadas e adoeceram por influencia do habitat, da má alimentação, da privação de sono, desidratadas e de tantas outras necessidades básicas que aquela selva não as fornecia.

O grupo de voluntários que encontraram as crianças, disseram que o mais afetado dos quatro, era o menino, “ele estava nas ultimas”. Neste momento eram quatro voluntários indígenas e cada um ficou responsável para continuar a subir o morro, com uma criança nos braços. A subida foi de muita nostalgia por parte da equipe, eles conversavam sobre os dias que passaram na mata, mas as crianças ficaram em silencio o tempo inteiro, a única coisa dita antes, pelo garoto, era sobre a sua mãe, de que eles sabiam que ela estava morta. 


“Depois do acidente, eu não sei por quanto tempo fiquei inconsciente."

Lesly Mucutuy


Imagem ilustrativa do depoimento de Lesly Mucutuy
Reprodução - Netflix


Após o resgate, Lesly Mucutuy deu um depoimento a policia que com certeza deixou muitos oficiais experientes comovidos com tamanha coragem e força de uma menina tão nova. Ela conta de quando acordou na aeronave e não se sabe por quanto tempo ficou desacordada, e que naquele momento percebeu sua perna estava muito machucada e de que sua mãe estaria dando os seus últimos suspiros, e o único instinto que teve naquele momento, foi de salvar os seus irmãos mais novos que estavam chorando e muito assustados.

Sua mãe já estava morta, quando ela teve de erguer o corpo dela e retirar a sua irmã mais nova de debaixo do corpo dela, que por uma medida de proteção, deve ter abraçado a menor em seus braços para protege-la e por este motivo, podemos considerar, Magdalena Mucutuy, uma mãe e heroína, nos seus últimos instantes de vida.



Imagem ilustrativa do depoimento de Lesly Mucutuy
Reprodução - Netflix


Apesar de toda força e coragem, Lesly carregou muita culpa por não ter conseguido fazer nada por sua mãe, e muita dor. Ela conta que a sua perna sangrava e doía muito, e que depois de conseguir sair da aeronave com os seus irmãos, ela não conseguia sequer ficar de pé, mas sabia que tinham que sair dali para encontrar comida e água. Ela precisou rastejar no meio da selva, guiar seus irmãos e carregando a mais nova em seus braços e isso durou por 20 dias. A sua maior preocupação era manter a irmã mais nova e indefesa em segurança e com vida, ela conta que a sua mãe lhe ensinou quais frutas na floresta eram comestíveis, conseguiu fazer uma vara de pesca com um galho de arvore e assim conseguiu pescar peixes no rio e alimentar a todos com o peixe cru, do jeito que fora capturado. E ela entendia que era uma questão de sobrevivência, por mais que aquilo não era nada agradável ou saboroso, era necessário e ela estava disposta a lutar pela vida dela e dos irmãos até onde conseguisse.


Imagem ilustrativa do depoimento de Lesly Mucutuy
Reprodução - Netflix


Os áudios reproduzidos em megafones nos helicópteros, eram escutados pelos irmãos, que tentavam seguir a direção dos sons emitidos pelos helicópteros e por esta razão seria impossível encontrar uma localização deles, se não ficavam parados e se perdiam na mata. O pior momento para Lesly era quando chegava a noite, a exaustão tomava conta de todos, além da dificuldade em enxergar no escuro, e ela ainda tinha de tentar fazer seus irmãos dormirem, enquanto ela permanecia acordada. Com a ajuda de um pedaço de madeira, ela teve de matar uma cobra para defende-los, e seu irmão já estava tão fraco que mal conseguia ficar de pé. Foi quando ela teve um momento de desespero e largou seus irmãos na mata e se afastou, aos prantos, chorou muito e após alguns minutos resolveu voltar e protege-los. Tien e Cristin estavam quase mortos, não havia mais esperanças, até que ela avistou Nícolas e suas pernas e consciência desabaram. Ela sentia um misto de emoções e um sentimento de dever cumprido, de que ali não precisaria mais ser responsável pelos seus irmãos e poderia confiar naquele homem que lhes chamou de “Família”.

Assim que as forças armadas receberam a noticia do encontro das crianças, eles foram ao encontro da equipe de voluntários indígenas, e prestaram atendimento imediato às crianças. 


“Toda a nação se uniu na esperança de encontrá-los vivos”


Os voluntários e os oficias das forças especiais que participaram das buscas, foram ovacionados pelo povo colombiano
Reprodução - Netflix

A notícia do encontro das crianças e de que todas elas estavam vivas, logo se espalhou por todo o país e pelos portais internacionais. Indígenas e soldados celebravam juntos e emocionados com o desfecho da operação esperança.

A Operação esperança foi além de uma busca por crianças perdidas na selva, mas o ponto inicial de uma jornada que levava homens e mulheres, indígenas, militares, brancos, mestiços, ou qualquer um que estivesse envolvido com o caso, parasse por um momento, para refletir sobre a importância de respeitar o outro independente de sua raça, religião ou crença; somos capazes de conquistar tudo o que quisermos. E estas foram as palavras do chefe das forças especiais em uma entrevista, após o resgate. 


“As crianças da selva, agora são da Colômbia inteira”.

Gustavo Petro

Presidente da República da Colômbia


Gustavo Petro - Presidente da República da Colômbia
Reprodução - Netflix

Após o retorno da equipe de buscas, a Colômbia inteira parou para prestigiar os mais novos heróis do país, que foram recebidos com um cortejo. Deve ter sido a primeira vez na história que o país inteiro estava unido, com indígenas e soldados, celebrando uma ação conjunta na história. As ruas estavam cheias, e todos clamavam pelos voluntários e soldados que participaram das buscas. 


“Eu espero que essa Operação Esperança tenha servido para toda a Colômbia e que a gente possa trabalhar em comunhão. Te juro que se me dissessem para abandonar a camuflagem, que amanhã teria paz na Colômbia, eu abandono, porque o que eu quero é que haja paz para as minhas filhas.

Cap. Legionario 



Capitão Legionario com suas filhas
Reprodução - Netflix


Henry Guerrero diz que essa busca pelas crianças perdidas foi muito importante, principalmente para os povos indígenas da Colômbia. Foi o momento em que o mundo percebeu que eles existem e que podem contribuir na sociedade. A missão foi transformadora na vida de todos, que graças a um milagre, eles conseguiram retornar com alegria e ainda ganharam uma nova família.


“Encontrar as crianças, foi como resgatar elas e a mim mesmo. Tanto elas, quanto eu, fomos resgatados. Com amor e respeito, através da nossa cultura, da identidade milenar dos povos indígenas. E disso, assim, como os das crianças, eu me sinto orgulhoso.”

Nícolás Ordóñez




As crianças perdidas - Imagem do arquivo pessoal da família, antes do acidente
Reprodução - Netflix

Após o retorno das crianças, novas investigações foram abertas e muitas descobertas sobre o caso de Manuel Ranoque foram feitas. O pai das crianças foi denunciado por abusos cometidos (suposto abuso sexual) e encontra-se preso, esperando o julgamento. Os irmãos estão sob os cuidados do Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF), órgãos governamentais que ficam responsáveis pela proteção e disponibilizam toda a assistência que eles precisarem. O cão Wilson, que participou ativamente nas buscas pelas crianças e ajudou os voluntários a encontrar rastros das crianças, infelizmente se perdeu. Segundo Lesly Mucutuy, o cachorro esteve ao lado dela e de seus irmãos por algum tempo, mas desapareceu na mata. A imagem de todas as crianças presentes nos registros do documentário, foram preservadas. Não há fotos e nem vídeos que exponham rostos, e os depoimentos foram reproduzidos e mostrados através de ilustrações animadas, o que achei de extrema delicadeza e deixou a estética do filme, muito mais bonito e poético.


Reprodução - Netflix


Meu único desejo é de que haja justiça, no julgamento de Manuel Ranoque, que ele pague por todas as maldades que cometeu contra a família Mucutuy. Quando vi a entrevista dele para as emissoras e escutei o noticiário contando que a mãe estava indo encontrar o pai das duas filhas mais velhas, me questionei do porque a mãe levaria as duas crianças mais novas se ela morava com o pai delas... Pra mim não faria sentido, a não ser que ele não gostasse dos próprios filhos ou a mãe não confiasse no próprio marido. Que Magdalena Mucutuy possa descansar em paz, com a certeza de que seus filhos serão felizes e que os povos indígenas, não só da Colômbia, mas no mundo inteiro, tenham reconhecidos os seus valores dentro da sociedade. O documentário transmite belas mensagens sobre resiliência, amor e respeito, não só a natureza, e aos seres vivos, mas ao reconhecimento das forças sobrenaturais e inexplicáveis presentes no universo, que devemos parar de ignorar.


Reprodução - Netflix

Onde assistir: Netflix

Título: As crianças perdidas

Data de lançamento: 14 de novembro de 2024 (mundial)

Diretores: Orlando von EinsiedelLali Houghton

Produção: Marta Shaw

Produtoras: Caracol TelevisiónImagine Documentaries

 


6 comentários:

  1. Nossa! Uma história real, né. Crianças perdidas na floresta ...

    ResponderExcluir
  2. É uma história triste,deu muita aflição ao acompanhar. Mas ao mesmo tempo mostra a luta dessas crianças e a força de sobrevivência,um grande aprendizado. Essa resenha foi ótima,para quem ainda não conhece a história,ficou tudo muito claro e transparente. Uma boa indicação de leitura

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, Isa!
      São relatos muito fortes e importantes. Apesar de triste, ha muita força, união e superação por parte de todos os envolvidos, que é impossível da gente ver e não parar nem que seja por um tempo e rrfletir sobre nossas ações e pensar, principalmente nos povos indígenas e em tudo que eles nos apresentaram. É muito bom o documentario e fico feliz com seu comentário.

      Excluir
  3. É impossível não se emocionar e ficar impactado com relatos. Cada detalhe dessa história nos leva a pensar no sofrimento de todos os envolvidos,especialmente das crianças...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, Joana Darc. É uma história muito emocionante e me lembro que na época em que foi noticiado nem eu tinha esperanças delas serem encontradas e assistir a história completa me fez abrir os olhos para uma realidade que vai muito além do que meu ser estava preparado. Agradeço pelo comentário.

      Excluir